Redação dissertativa - VERDADEIRAMENTE OUTRO - vida humana; natureza; sentimentos; vida; ser humano; homem; intercâmbio cultural; vida coletiva; existência humana; conhecimento.



Redação dissertativa para concurso público, vestibular, prova do Enem.
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Verdadeiramente outro
(Fonte: Jornal do Brasil, Tarcisio Padilha Junior)



O homem é o ser que, em vez de se adaptar à ordem e ao equilíbrio dados, chamados naturais, constrói um mundo novo, cultural, sobre o anterior. Ele se faz a si mesmo ante a natureza; certamente, não é o criador da vida, mas quem constrói a vida humana ou, mais exatamente, aquele que exercita a capacidade técnica a serviço da liberdade para sair da necessidade da natureza.

Admiração e medo, prazer e angústia, serenidade e inquietude são os sentimentos do homem diante do espetáculo global da natureza. A contemplação da ordem da natureza não é apenas fonte de um sentimento estético, tem também relação com o agradecimento por se encontrar em uma situação favorável à vida.

O ser humano é capaz de modificar substancialmente o seu entorno. A atividade técnica é a criação de uma ordem com uma determinada finalidade: a casa, para dispor de um espaço para recolhimento, descanso, intimidade; a cidade, para facilitar os intercâmbios econômicos, culturais; as terras de cultivo, para assegurar o sustento.

Há uma multidão de outras atividades ordenadoras, algumas tão simples como o arranjo dos utensílios na cozinha ou os livros na biblioteca, e outras mais abstratas e complexas, como são as da política e as leis, que buscam pôr em ordem a vida coletiva. Dependendo de que coisas ou situações da vida, existe algo como uma profundidade insondável, um sentido inalcançável na existência humana.

No caminho do campo, diz Heidegger, “o simples contém o enigma do que permanece e é grande. Entra de improviso no homem e requer uma longa maturação”. Ver as coisas dessa maneira não significa menosprezar o conhecimento, sobretudo o científico-tecnológico, mas antes de tudo reconhecer seus limites e os limites que em geral encontramos em nossa perspicácia do mistério da realidade.

O mistério não está apenas no outro, também está no próprio ser, na imensidão íntima. Por acaso, alguém pode dizer o que é completamente a si mesmo?

Penetramos pouco nesse mistério, mas não nos é permitido penetrar até o centro, porque este é verdadeiramente outro, o sagrado. O sagrado supõe um gênero de realidade, a transcendência, mais consistente e pleno que as realidades que conhecemos. O mistério do mundo, das coisas simples, das pessoas, do próprio ser nos obriga a adotar uma atitude respeitosa. Respeito pelo que não conseguimos conhecer, e que constitui a autêntica densidade do outro, dos outros, de nós mesmos.
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